sábado, 15 de junho de 2013

Ultra Maratona Caminho dos Anjos 2013 ( relato )

"Ando devagar porque já tive pressa ... guardo este meu sorriso porque já chorei demais"

       Sem saber  porque escolhi esta música para  a maior corrida que fiz e   a  maior corrida do Brasil , e por obra do destino escolhi certo .
       Já faz um ano que programei esta Ultra Maratona , não sabia ao certo se ia ou não devido ao alto custo financeiro. Uma Ultra Maratona deste porte se gasta em média de 3 a 4 mil, com inscrição e equipe  de apoio. 
       Decidi  correr solo, não só pelos gastos, mas porque queria viver algo diferente. Já havia corrido duas edições da BR 135, com carro de apoio. Foi maravilhoso ter uma equipe do meu lado. Mas desta vez queria faze-la sozinho, para competir e refletir um pouco. E me enganei, pois ninguém faz nada sozinho até quando você se escreve solo, sempre aparece alguém para te ajudar .
    Me preparei muito para chegar a esta prova. Encontrei muitas pedras pelo caminho, que me decepcionaram. Eu e meu amigo de treino José Rafael, fomos a Secretária Municipal de Esporte da nossa cidade, conversamos com o secretário e ele nos prometeu que iria pagar nossa inscrição. Então fizemos, pagamos e ficamos esperando o reembolso, conforme prometido. Mas... Politico é sempre Politico , em todo lugar , o que fala em pé não assume sentado .
     Bem, protesto feito, vou ao que realmente interessa. Como já disse, treinei bastante:  duas provas preparatórias uma de 80 k e outra de 100 km , completei as duas com sucesso . Continuei treinando ... até que chegou o grande dia de viajar para Passa Quatro.



             Parti com certa dúvida, se iria completar ou não. Cheio de vontade, mas meu coração temia.
           Chegando na em Passa Quatro me acalmei reencontrando grandes amigos. Passamos bem a noite até a hora da largada . Neste momento me enchi de alegria de estar ao menos na linha, para partir depois de tantas dificuldades .


                                           Na largada :  eu e Rafael que levou equipe de apoio .


        Larguei tranquilo sem me apavorar, pois sei que quem apavora em uma prova destas paga caro.
      Dentro da categoria solo, sem apoio, estava em segundo lugar. Quem liderava era o veterano atleta Delino Tomé .

   
         Passei o dia correndo bem , caminhava nas subidas e corria forte nas descidas e plano. 
       Após passar pela primeira cidade, Itamonte, encontrei meu amigo de ultras  João Morelli (que mais tarde foi fundamental para que eu terminasse a corrida ). Fizemos um longo trecho juntos, uns 20 km. Depois me sentindo melhor corri forte até chegar em Alagoa . Lá encontrei Vera da Ultra Runner e Mônica Otero, duas grandes damas das Ultras Maratonas, comi Muiiito, reabasteci e comecei minha primeira noite sozinho em meio a grande escuridão. Ainda me sentia bem e consegui  me manter  correndo . Por volta das 21 horas, cheguei a Aiuruoca , já estava com 92 km e continuava em segundo lugar solo e mais uma vez me reabasteci em um PC e comecei a subir para Serra do Papagaio ( Cachoeira dos Garcias ). Cerca de 15 km de forte subida , chegando a casa da cachoeira onde tinha sopa e cama , consegui "pegar" o Delino Tomé, até então o primeiro colocado. 
           Passei e cheguei na casa em primeiro . Neste momento, comecei a pensar em acelerar e não deixar o Delino me passar , mais parei e pensei " o que é que eu quero ? Chegar em primeiro, é só um titulo, no momento só quero completar a prova ".  O caseiro me disse que tinha duas pessoas dormindo, quem era o José Rafael e o Sr. Luiz, seu pacer . Resolvi deitar um pouco, já que neste momento estava começando a ficar debilitado. Vi quando o Delino saiu  e assumiu a liderança novamente. Virei pro canto e dormi .
      Quarenta minutos foram  suficientes. Chamei o José Rafael e partimos. Logo, juntou-se a nós um atleta de nome Sebastião, da cidade de Betim , demoramos quase 5 horas para descer uma serra cheia de pedras e buracos. Só quem passa por lá sabe o quanto é difícil descer aquele lugar , só dá para andar e bem devagar. Quando amanheceu ficou eu e Sebastião lado a  lado, corremos em direção ao Esplaiado do Gamarra , notei que minhas costas estavam queimando e ardendo , tirei a mochila e vi sangue , pedi para que o Sebastião olhasse o que havia acontecido. Ele ficou muito assustado com a cena e disse que minhas costas estavam na carne viva , tinha machucado muito e eu não podia continuar assim, pois poderia ter sérias consequências . Então me preocupei , e de certa forma me veio um desespero , será que vou falhar ? Será que não vou conseguir completar a maior corrida do Brasil ? 
      Chegando no Esplaiado, pedi para uma pessoa da organização me deixar trocar a bolsa. Cheguei a chorar temendo não conseguir autorização para troca.  Julio Latini estava lá e fiquei contente de encontrar algum conhecido no local.  A organização viu meu estado e não teve como não me autorizar , estava realmente muito machucado. Sebastião gentilmente me emprestou uma mochila que ele carregava no carro de apoio .

      Continuei a corrida, agora com certeza de que iria completar a prova.
      Cheguei  em Baependi  às 11 horas da manhã de sábado , deitei no meio da cidade em uma calçada e adormeci um pouco. Fui acordado por João Morelli e por uma Atleta do Sul que  corria solo também.
        De Baependi ( 145 km )  até faltando uns 20 km para a chegada, a música entrou de fato na minha corrida , PERDI A PRESSA , ANDEI DEVAGAR . Nada mais interessava somente a chegada. Foi devagar mesmo, sol durante o dia e muito frio na noite de sábado. Seguimos em frente eu, João e a Gil , passamos momentos difíceis durante a prova. Mas um certo anjo disfarçado de amigo, estava comigo, JOÃO MORELLI, que com paciência  nos levou a chegada . Terminei como 3º colocado solo  sem apoio.

                   
        Por ter corrido solo tenho poucas fotos , mais muitas lembranças na minha mente .

        Agradecimentos :

Aos meu patrocinadores : Casa do atleta , Academia Bio health .

                                         João Morelli
                                         Sebastião
                                         José Rafael
                                         Luiz dos Santos
                                         E todos que torceram e torcem por min.



 

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